Fonte: http://escola.previdencia.gov.br/serv_publico7.jpg A COPSS parabeniza os servidores do IFS pelo seu dia. " |
Em meio a protestos por
melhorias na educação, à greve de professores no Estado do Rio de
Janeiro e à pouca procura pela carreira no magistério, o que é preciso
para valorizar a carreira de professor no Brasil?
Pesquisa divulgada no início do mês pela
fundação educacional Varkey Gems colocou o Brasil em penúltimo lugar
entre 21 países em um ranking de valorização de professores, com base na
remuneração de docentes, respeito por parte dos alunos em sala de aula e
o interesse pela profissão
Neste último quesito, uma outra
pesquisa, das fundações Victor Civita e Carlos Chagas, deu também
indícios desanimadores: apenas 2% dos estudantes de ensino médio
pesquisados tinham como primeira opção no vestibular carreiras em
pedagogia ou licenciatura.
"Há o problema da atratividade da carreira e da
formação dos professores – e ambos estão interligados", opina à BBC
Brasil Paula Louzano, pesquisadora da Faculdade de Educação da USP e
doutora em educação em Harvard.
"Ao contrário de países (com ensino considerado
de alta qualidade) como Cingapura, Finlândia e Canadá, no Brasil o
trabalho é visto como algo que qualquer um pode fazer. A maioria não
escolhe ser professor, é escolhido (por falta de outras oportunidades)."
A mudança dessa mentalidade é "fundamental", diz
Louzano. "A docência é uma das profissões mais complexas de se fazer
bem-feito, de ensinar 40 alunos de uma mesma sala com demandas e
históricos diferentes."
O tema ganha força nesta terça-feira, dia do
professor, em que estão planejados protestos pela educação em diversas
cidades brasileiras e em que a presidente Dilma Rousseff escreveu em seu
perfil no Twitter que "educação de qualidade exige professores mais bem
formados e melhor remunerados".
Também nesta terça-feira, professores fluminenses decidiram em uma assembleia continuar uma greve iniciada há 2 meses.
Salários
O debate sobre a atratividade da profissão
também passa por salários. Um levantamento da ONG Todos Pela Educação
com base em dados do Pnad (pesquisa nacional de amostra de domicílios do
IBGE) mostra que os professores de educação básica brasileiros ganham
apenas um terço do que a média de profissionais formados em ciências
exatas.
Isso ajudaria a explicar a dificuldade de muitas
escolas em conseguir bons professores de física e matemática, já que
profissionais com esse tipo de formação conseguem remuneração muito
superior em outras áreas.
Ao mesmo tempo, o levantamento da ONG aponta que
o salário dos professores tem crescido gradativamente entre 2002 e 2011
(o Pnad de 2012 ainda não foi computado), ganhando competitividade
perante os rendimentos de outros profissionais com ensino superior
completo.
"A diferença salarial está caindo, mas as
condições de trabalho não dizem respeito apenas ao salário", explica
Alejandra Meraz Velasco, gerente técnica da Todos Pela Educação.
Beatriz Lugão, diretora do Sindicato Estadual
dos Professores do Rio, cita entre as queixas da categoria "a falta de
autonomia pedagógica (o fato de os professores se sentirem limitados
quanto à elaboração das aulas, por exemplo), turmas superlotadas,
sucateamento de escolas e filtro ideológico na indicação política (do
corpo de diretores)".
Simultaneamente, um dos avanços em políticas
públicas, diz Paula Louzano, é a adoção de um piso salarial nacional aos
professores, ainda que não tenha sido estabelecido em âmbito federal um
limite máximo de horas de trabalho.
"Isso faz com que alguns professores trabalhem
71 horas semanais, em duas ou três escolas diferentes. A qualidade desse
trabalho vai ser afetada."
Gestão escolar
Para Naercio Menezes, coordenador de pesquisas
do centro de políticas públicas do Insper, o professor está lentamente
recompondo seu poder de compra perante outras carreiras, mas ele
argumenta que não há uma correlação clara entre salários de mestres e o
desempenho dos estudantes em avaliações como a Prova Brasil. E diz que o
número de faltas desses professores é um dos fatores que prejudicam os
alunos.
"O mais importante é a gestão (escolar)",
defende. "Se a escola não introduz a meritocracia e o bônus pelo
desempenho (dos professores), há uma acomodação geral no sistema."
A ideia não é consenso entre especialistas.
Louzano argumenta que a escola pública, em geral, não oferece apoio
suficiente ao docente para impor cobranças por meritocracia.
"É preciso pensar numa política que combine apoio (ao professor) e incentivos (ao seu desempenho)", opina.
Mas a gestão escolar volta a aparecer como um
fator importante em uma recente pesquisa da Fundação Lemann e do Itaú
BBA, que mapeou iniciativas bem-sucedidas em escolas em regiões carentes
do país.
Entre essas iniciativas estão estratégias para
valorizar o docente – mesmo na ausência de um plano de carreira – e
capacitação especial para os professores em pontos específicos do
conteúdo escolar que eles tenham tido dificuldade em ensinar aos alunos.
Formação
A capacitação e formação dos mestres é citada
também por Paula Louzano como um dos pontos cruciais para a valorização
do docente e a melhoria do ensino básico no país.
Ela cita duas preocupações específicas:
primeiro, a não-valorização de suas habilidades ("infelizmente
consideramos aceitável que, se falta um professor de física, qualquer um
possa dar aula no lugar dele") e, em segundo lugar, a proliferação de
cursos privados de qualidade duvidosa - muitos à distância e com carga
horária insuficiente – na formação de docentes.
"Há no mercado cada vez mais cursos baratos, de
final de semana, e sem tutores qualificados, que certificam (pessoas a
serem professores)", argumenta. "Por que não consideramos isso aceitável
em engenharia ou medicina, mas sim na formação de nossos professores?"
Questionado pela BBC Brasil, o Ministério da
Educação enumerou projetos diversos voltados à valorização de docentes,
como o Plano Nacional de Formação de Professores (com cursos de
licenciatura e formação pedagógica), o Pibid (programa de concessão de
bolsas a alunos de licenciatura) e a Universidade Aberta do Brasil, que
tem cursos de aperfeiçoamento a professores em áreas como matemática,
gestão escolar e educação integral, entre outros.