Educadores são os que contribuem para
ajudar-nos a evoluir, a ampliar nossos horizontes em todos os campos e a
que possamos fazer escolhas cada vez mais realizadoras, abrangentes e
interessantes. Tem pessoas que nos ensinam algumas coisas (e podem ser
bons profissionais) e tem outras, que nos ajudam a perceber mais, a
ampliar horizontes, a motivar-nos para viver melhor e que torcem pelo
nosso sucesso como pessoas; essas, além de bons profissionais, são bons
educadores.
Quando vejo tantas pessoas
escolarizadas, dando tanto valor a futilidades, a múltiplas aparências,
sacrificando-se na ânsia de possuir mais bens, agitando-se nas borbulhas
de qualquer distração, satisfeitas na superficialidade de ritos
repetidos e, provavelmente, vazios, percebo que a educação de alguma
forma falhou, mesmo que formalmente elas tenham obtido muitos diplomas e
sejam, em alguns aspectos, bem sucedidas.
Na educação pessoal precisamos olhar o
todo, o resultado mais amplo e de longo prazo e não só o sucesso
profissional e econômico. As pessoas aprendem a gerenciar bem suas
vidas? Aprendem a lidar bem com a complexidade de opções em todos os
campos (pessoal, familiar, profissional, social)? Tem condições de
analisar idéias, valores, escolhas possíveis tão diferentes, numa
sociedade tão contraditória? Conseguem ser criativas, ter independência
de pensamento, de resistir à sedução de qualquer novidade, de ser meros
alto-falantes de qualquer opinião emitida pela mídia? Conseguem enxergar
além das seduções imediatas do consumo, do glamour do mundo das modas,
da efervescência juvenil, do deslumbramento com o sucesso fácil?
Conseguem ter motivação profunda para viver? Conseguem encontrar uma
relativa paz interior e realização autênticas?
Olhando na perspectiva dos resultados
pessoais obtidos, a educação social parece bastante pobre e
inconsistente. São muitas as pessoas que não acham sentido no que fazem,
na forma como vivem, nas tarefas que desempenham. São muitos os que
mais sobrevivem do que plenamente vivem. Aprenderam muitas coisas, menos
as principais.
É importante pensar na educação que
valorize as pessoas, que as liberte dos ditadores das soluções únicas,
das imposições autoritárias em qualquer campo, principalmente no
emocional. Que ajude a aprender a desconfiar de modelos fechados, de
caminhos únicos, de ideologias opressoras, de salvadores messiânicos.
Não há soluções perfeitas, acabadas, mas soluções possíveis em cada
momento, relativas, parciais, mas cada vez mais amplas, complexas e
estimulantes. É importante propor caminhos de aprender a libertar-se, a
fazer escolhas cada vez mais libertadoras, ajudados por
pessoas-educadoras que caminham também nesse mesmo processo de
liberdade.
Além das dimensões sociais, o objetivo
último da educação é contribuir para a mudança e realização pessoais.
Todas as formas de educação – familiar, escolar, profissional, informal,
continuada – procuram que cada de um de nós consiga aprender a
desenvolver-se como pessoa em cada fase das nossas vidas. E podemos
avaliar esse processo pelo impacto e resultados que conseguimos
pessoalmente: O quanto cada um de nós gosta de estar sempre aprendendo,
evoluindo, praticando, melhorando intelectualmente, emocionalmente,
comportamentalmente. O investimento em educação terá valido a pena se
cada um de nós se transforma em uma pessoa interessante, afetiva,
colaborativa, criativa, realizada. Terá valido a pena se construímos
percursos de vida significativos, com contribuições perceptíveis no
campo pessoal, familiar, profissional e social.
Texto complementar do meu livro A educação que desejamos: novos desafios e como chegar lá, da Editora Papirus
Fonte: http://www.eca.usp.br/prof/moran/